Ele estava conversando com um amigo quando cheguei, aparentava estar um pouco ansioso, não sei se por me esperar ou por não ter nenhum cliente marcado para aquele horário e o tempo parecia não passar. Vestia-se com uma calça jeans e uma camiseta de listras pretas e cinzas, a roupa combinava com o dia nublado e escuro, mas parecia que tudo ia clareando a medida que começou a contar sua história de vida.
Vlade, como é conhecido por todos, começou a trabalhar com seu pai aos 12 anos. Trabalhava no ramo de piscinas. O adolescente acompanhava seu pai com alegria e disposição, para aquele que seria seu primeiro emprego. “Jamais fui obrigado a trabalhar com meu pai, ia porque gostava do que fazia, nunca por necessidade ou obrigação”, fala hoje daquela fase da vida que foi essencial para seu crescimento social e profissional. Ao falar de suas experiências profissionais se lembra com satisfação que já trabalhou em muitos lugares como em escritórios de contabilidade, bancos e empresas de grande porte, na área administrativa. Com seus 18 anos já possuía casa própria, mas o que não imaginava e nem ao menos pensava era que no lugar de números e cálculos surgiria uma tesoura e um estojo de maquiagem para trabalhar, e a cabeça de muitos estaria em suas mãos. “Não tinha dom e nem vontade de ser cabeleireiro, foi mesmo no impulso que entrei para fazer o curso, logo após a morte de minha mãe”.
Em uma sociedade tão preconceituosa, Vlade fala em voz alta que nunca sofreu preconceito no ambiente de trabalho e social. “Frequento mais lugares ditos hetero do que GLS, sou convidado para muitos eventos, o preconceito não é somente uma questão de nível econômico mais baixo, mas sim de cultura, pessoas com atitudes de preconceito são aquelas que não sabem se posicionar, sou um homossexual atípico”, enfatiza com alegria.
O cabeleireiro com 15 anos de profissão fala com entusiasmo que hoje as mulheres preferem cortar cabelos com homens, pois confiam mais na opinião e dicas de um profissional do sexo oposto. “Sempre procuram por homens pois estão certas que se cortarem com outra mulher não vai ficar tão apresentável, e a inveja de uma ficar mais bonita é evidente”.No momento em que respondia a essa pergunta entra em seu salão uma cliente mulher para confirmar o que havia dito.
Sobre sua realização profissional diz que se sente realizado, mas que deseja sempre mais.”Frequento sempre feiras, workshops e procuro me atualizar frequentemente com cursos para que eu possa atender meus clientes com mais